Rondon – Vida e Obra*
Fernando Tadeu de Miranda Borges**
Na condição de Membro
Efetivo da Sociedade dos Amigos de Rondon tive o maior orgulho de receber a
indicação desta entidade, oficializada pelo presidente, Dr. Ivan Vidal Pedrosa,
para falar sobre a vida e a obra daquele que é considerado um dos mais importantes
brasileiros do século XX, Cândido Mariano da Silva Rondon, no Dia das Comunicações.
Será sempre uma tarefa impossível abordar toda a trajetória de luta deste ilustre
conterrâneo, marechal “sertanista pacificador”, e que desde criança passei a
conhecer e a admirar pelas maravilhosas histórias de bravura que a minha avó contava
a seu respeito, e que, por incrível que pareça, acabaram alimentando e
enriquecendo a minha imaginação. As histórias como as de Rondon, portanto, tem
a magia do tempo eterno. TEMOS UM RONDON DENTRO DE NÓS A REAVIVAR AS NOSSAS FORÇAS.
As visitas de Rondon a Cuiabá,
durante o século XX, eram anunciadas com alegria, e as palestras proferidas, muito
prestigiadas. A Revista A Violeta,
que teve a escritora, professora e jornalista Maria Dimpina, por grande tempo,
na direção, registrou esses momentos vividos pela cidade verde, que tinha
Rondon como aliado na luta para a construção da Estrada de Ferro, tendo sido inclusive
acionista da Estrada de Ferro Norte de Mato Grosso, ao lado das muitas outras
pessoas que acreditavam nas vias de comunicações como estratégia para a
conquista do desenvolvimento. Mas o que trazer da vida e da obra de Rondon
nesta data festiva? Creio que relembrar um pouco de sua trajetória, repleta de
bravura, e que ainda encanta e revitaliza as esperanças diante dos desafios e das
dificuldades. Cândido Mariano
da Silva nasceu no dia 05 de maio de 1865, em Mimoso,
distrito de Santo Antonio do Rio Abaixo, atual município de Santo Antonio do
Leverger, estado de Mato Grosso. Era filho de Cândido Mariano da Silva e
Claudina de Freitas Evangelista. De origem humilde, órfão ainda pequeno, foi
criado, por uma bisavó, de descendência indígena, e aos sete anos de idade, ainda
na infância, mudou-se para Cuiabá, com a finalidade de estudar, tendo ficado, à
época, sob a tutela do seu tio Manoel Rodrigues da
Silva, capitão da guarda - nacional, que resolveu adotar o
sobrenome Rondon, apelido da sua mãe, por ter um homônimo, e que vinha causando-lhe
alguns contratempos. Na capital de Mato Grosso, Rondon concluiu os estudos
básicos, e mudou-se, logo em seguida, para o Rio de Janeiro, ao decidir-se pela
carreira militar. Cabe ressaltar que o sobrenome Rondon também foi adotado por
Candido Mariano da Silva, em reconhecimento ao tio Manoel Rodrigues da Silva
Rondon, que para ajudá-lo nos estudos, no Rio de Janeiro, manifestou a intenção
de adotá-lo como filho, no entanto, à época, Rondon não aceitou a proposta do
tio, e ousou enfrentar com galhardia as dificuldades. É interessante observar
que hoje o sobrenome Rondon tornou-se símbolo, brasão. Defensor da libertação
dos escravos e da proclamação da República, Rondon amou Mato Grosso, tendo demonstrado
pelo pantanal mato-grossense um profundo sentimento sertanejo. Rondon viveu
intensamente a beleza e a liberdade da vida rural. Rondon realmente admirou a
natureza com todas as letras, acreditou, e dedicou-se com afinco ao Brasil. Rondon
era um brasileiro hospitaleiro, cordial. Concluiu os estudos na Escola Militar,
no ano de 1890, e graduou-se em Matemática e Ciências
Físicas e Naturais. Terminada essa fase, trabalhou inicialmente
como auxiliar de Gomes Carneiro na Comissão para a Construção de Linhas
Telegráficas de Cuiabá a
Registro do Araguaia. Rondon por um curto período de tempo lecionou astronomia,
e casou-se, em 1892, com D. Francisca Xavier, mais conhecida como D. Chiquita,
com quem teve sete filhos: Araci Rondon, Benjamin Rondon, Clotilde Rondon,
Marina Rondon, Beatriz Emília Rondon, Maria de Molina Rondon e Branca Luiza
Rondon, muitos netos e bisnetos. Na construção de linhas telegráficas ligou o
Brasil ao Brasil e o Brasil aos países sul-americanos. Nessas missões destacou-se
com maestria, e recebeu inúmeras condecorações pelos relevantes serviços
prestados. Foi o primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio, e nesse
cargo também obteve elevado reconhecimento. Em 1913, foi designado pelo governo
Federal para organizar e acompanhar o presidente dos Estados Unidos da América,
Theodoro Roosevelt, que viera ao Brasil em viagem de estudos, obtendo, Rondon,
pelo trabalho desempenhado, o Prêmio Living-Stone, conferido pela Sociedade de
Nova York, e tendo seu nome gravado numa placa de ouro, como um dos mais
importantes desbravadores do mundo. Depois dessa missão prosseguiu com os
trabalhos das linhas telegráficas. Contribuiu para o conhecimento da
cartografia de Mato Grosso e do Brasil, das plantas, dos animais, das riquezas
naturais e minerais. Nesses estudos, Rondon observou que Cuiabá encontrava-se localizada
no Centro Geodésico da América do Sul. Rondon participou da festa em
comemoração ao bicentenário de Cuiabá, com conferências e exposição
cartográfica no Palácio da Instrução. O território do Guaporé recebeu o nome de
Rondônia, devido a uma proposição do diretor do Museu Nacional, em 1917,
Roquette Pinto. Como deputado, o tenente Otávio Pitaluga, propôs, em 1918, a mudança do nome do
povoado mato-grossense de Rio Vermelho para Rondonópolis, numa justa homenagem
a Candido Mariano da Silva
Rondon, que nesse lugar estivera com a Comissão das Linhas Telegráficas. Das
agraciações recebidas destacam-se: medalha de ouro da Sociedade Brasileira de
Geografia, medalha de ouro da República da França, diploma de sócio honorário
da Sociedade Geográfica de Washington, diploma de sócio honorário da Sociedade
Geográfica de Munique, diploma de sócio honorário da Sociedade Holandesa de
Geografia de Haya, diploma de sócio da Sociedade Geográfica de Roma, diploma de
sócio honorário da Sociedade de Geografia de Berlim, membro da sociedade de
Geografia de Lima, diploma de Sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Mato
Grosso, título de civilizador do sertão conferido pelo Conselho Nacional de
Geografia e Estatística, sócio honorário da Sociedade Brasileira de
Antropologia e Etnologia, membro honorário da Sociedade de Americanistas da
Suíça e muitas outras. Além das condecorações, cabe registrar que os postos na
carreira militar foram conquistados por merecimento e dedicação. Foram inúmeras
as missões diplomáticas desempenhadas nas nossas fronteiras, e que acabaram
conferindo-lhe a condecoração da Gran Cruz da Ordem do Mérito Militar. Foi
Rondon quem propôs ao governo brasileiro para que deixasse de cobrar a dívida
que o Paraguai tinha com o Brasil em virtude da Guerra, e, também sugeriu ao
governo brasileiro a criação do Parque Indígena Nacional do Xingú. Rondon
contribuiu com dados preciosos para a confecção do mapa de Mato Grosso em 1952,
e, em 1955, recebeu a patente de Marechal do Exército e o Título de Doutor
Honoris Causa da Universidade do Brasil. No ano de 1957 muitos países começaram
a movimentar-se no sentido de indicar Rondon para receber o “Nobel da Paz”,
vindo a morrer, no entanto, em 19 de janeiro de 1958, sem ter sido agraciado
com esse merecido prêmio, mas mesmo assim tendo ficado imortalizado para sempre
pelos seus feitos no Brasil. Rondon deve, portanto, continuar servindo de
exemplo para todas as gerações. Rondon possuía sabedoria e conhecimento. É
preciso que o “Memorial Rondon em Mato Grosso” venha a ser terminado, e que
seja referência no mundo como Centro de Documentação, com trabalhos de
pesquisa, livros, jornais, revistas, discursos, gravações, fotografias, filmes
etc. É preciso continuar despertando nos jovens o orgulho e a grandeza de ser
brasileiro. É NECESSÁRIO CULTIVAR A CRENÇA DE QUE É POSSÍVEL FAZER MAIS PELA
SOCIEDADE. É importante desenvolver o sentido inovador, o olhar científico e
tecnológico, o compromisso com a
História, a responsabilidade social, a educação ambiental e o
espírito democrático. Sonho com aulas práticas ministradas em museus para jovens
estudantes de Mato Grosso. Sonho com
a educação atuando de forma integrada com a cultura, com a saúde e com o turismo no Brasil.
ACREDITO NA NOSSA CUIABÁ QUE EM 2019 COMEMORARÁ O TRICENTENÁRIO. Acredito num
país mais unido, mais fraterno e mais humano. Acredito que o mundo deverá ficar
mais amadurecido, mas sem perder a alegria da juventude. E, por fim, uma
pequena observação da escritora carioca Stella Leonardos, integrante da União
Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, e que encontra-se registrada no
livro “Memorial de Rondon”, editado pela Editora Universitária da Universidade
Federal de Mato Grosso, em 1995, que preciso compartilhar, “Cândido Mariano da
Silva Rondon. Gravo teu nome de evento. [...] Gravo teu nome de alento. [...]
Gravo teu nome de advento. [...] Gravo teu nome de intento. [...] Gravo teu
nome de tento. [...] E gravo teu nome o vento, Rondon de morrer talvez, Rondon
do matar jamais.” Stella Leonardos também ressalta que Rondon defendeu o lema, “Ainda
mesmo que alguém da expedição seja ferido pelos guerreiros do Juruena, nenhuma
represália deve ser movida contra os atacantes: no seu justo direito, defendem
as suas terras e as suas famílias.” Rondon, de acordo com Stella Leonardos,
ressaltou numa das ocasiões, “[...] Tudo foi feito pelos meus dedicados
auxiliares. Eu nada fiz. O que eu fiz qualquer um pode fazer”... Para concluir,
a indagação de Stella Leonardos, da qual compartilho, “(Será só querer? Será? E
o valor desse querer?).”
* Trabalhos consultados:
FIDALGO, Alcides e CABRAL, Mário
César (Criação e Textos). Nosso
herói Rondon. (Organização, Curadoria e Concepção de Patrícia Civelli).
Instituto Cultural Cidade Viva; MAGALHÂES, Amilcar A. Botelho. Rondon uma relíquia da Pátria. Curitiba:
Editora Guaíra, 1942; SILVA, V. Benicio da e BRANCO, Firmino Lages Castello. Rondon. Civilizador do Sertão. Rio de
Janeiro: Biblioteca do Exército, 1952; LEONARDOS Stella. Memorial de Rondon. Cuiabá: EdUFMT, 1995; VIVEIROS, Esther de. Rondon conta sua vida. Rio de Janeiro:
Livraria São José, 1958.
** Doutor em História Social e Mestre em Economia pela
USP. Docente da Faculdade de Economia, do Doutorado e Mestrado em História, e
do Mestrado em Agronegócios e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal
de Mato Grosso.